1º De Maio

O 1º de Maio de 1974 em Armação de Pêra

Armação de Pêra em Abril de 1974, era uma terra de brandos costumes, sem grandes fricções sociais ou políticas. Não havia operariado e as disparidades sociais eram abafadas na miséria, dos parcos rendimentos que os pescadores e os trabalhadores rurais auferiam. Quem conseguia estudar, aproveitavam a oportunidade para procurar novos rumos mais próximo dos centros de emprego ou estudo, normalmente iam para Lisboa ou margem sul. Muitos outros, procuraram melhores condições de vida na emigração, na maioria, saiam clandestinamente para a Europa. – França, Alemanha, Luxemburgo, Suiça – Outros, ainda, através de “cartas de chamada”, conseguiam chegar ao Canadá ou aos Estados Unidos.

O turismo ainda era uma indústria incipiente, havia o Hotel Garbe e algumas residenciais que criaram alguns empregos. A juventude, tinha a Guerra Colonial como destino certo, ou então fugiam à tropa, emigrando antecipadamente, ou até desertando.

O 25 de Abril de 1974, foi recebido com alegria, mas também com uma mistura de ansiedade e temor. Os noticiários eram permanentes, muitas vezes as notícias eram contraditórias, temia-se por um contra golpe, por confrontos entre militares ou até por ingerências externas.

Foi então no 1º de Maio, que sentindo que as conquistas das forças do MFA, (Movimento das Forças Armadas) estavam consolidadas, que o povo saiu à rua, em festa, manifestando a sua alegria! Os mais jovens porque o pesadelo da Guerra Colonial, terminara. Os mais adultos, e com alguma consciência política, porque as liberdades fundamentais: liberdade de expressão, liberdade de associação, liberdade de voto, que tanto ansiavam, Eram compromisso solene dos novos governantes.

Não tínhamos militares aqui, para as festas e manifestações de alegria, pela conquista da Liberdade. Fizemos cartazes e faixas, pintando à mão frases de agradecimento ao Movimento das Forças Armadas, dando vivas à Democracia, apelando à participação de todos na consolidação do novo regime. Arranjamos bandeiras nacionais! Gritamos em todas as ruas e em plenos pulmões, Vivas à Liberdade!

Não nos movia qualquer sentimento de revolta, nem de vingança ou ressabiamento. Era um sentimento misto de Alegria e Liberdade, por nos sentirmos enfim livres e iguais, podendo expressar sem temor os ideais que defendíamos.

Depois do desfile, a festa foi no largo da Fortaleza, ficou pejada de gente, fizemos discursos. Gritamos vivas à Revolução dos Cravos. Ficamos mais leves e adultos, com o sentimento do dever cumprido, de uma maior responsabilidade e sobretudo com a convicção de que a participação activa de todos os Armacenenses nos destinos da sua terra, estava conquistada, e que nunca mais abdicaríamos dessa conquista de Abril.

Viva o 1º de Maio! Vivam os Armacenenses!

Armação de Pêra, 30 de Abril de 2010

Luís Ricardo